Como se escreve uma história de amor, de um amor que perdura no tempo, preenche uma vida até ao seu crepúsculo e que nunca acaba para aquele que recorda o passado? Esta história de amor não se inspira na morte heroica de Romeu e Julieta, mas sim na vida comum de um velho casal para quem o amor se consumou numa vida de sorrisos.
A morte de um assombra a solidão do outro. Uma solidão cuja força das lembranças dá vida a fantasmas que não desistem de amar os que ficam, zelosos anjos de guarda, invisíveis amantes cujos beijos são feitos de vento.
O que partiu está ausente, porém a sua alma acompanha o que ficou, habita o ar daquele que o amou, aguarda o reencontro sabendo que a vida continua – só para quem está entre nós?
A solidão e o envelhecimento são um tema recorrente nas peças do Teatro Só. Porém, as personagens não são tocadas pelo desespero, mas sim pela reflexão dos gestos e pela gratidão da memória. A palavra “recordação” vem do francês “recour” (re-coração). Recordar é isso: fazer passar pelo coração, uma e outra vez.